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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Ser Jovem e Gay


A matéria de capa da revista Veja dessa semana aborda a juventude gay atual no Brasil. Com o título "A Geração Tolerância", a matéria afirma que existe uma maior aceitação em relação ao universo gay: “nunca foi tão natural ser diferente quanto agora”. O texto segue dizendo que a orientação sexual não deixa de ser um tema complexo, pois as coisas mudam lentamente, mas que a conquista alcançada pelos jovens até agora deveria ser um exemplo para muitos adultos.

De acordo com a reportagem da Veja, os jovens encaram a homossexualidade de forma natural. Nos colégios, por exemplo, chegou a ser “feio demonstrar preconceito contra pessoas de raças, religiões ou orientações sexuais diferentes das da maioria.”

Uma pesquisa feita pelas universidades estaduais do Rio de Janeiro (Uerj) e de Campinas (Unicamp) mostra que aos 18 anos, 95% dos jovens já se declararam gays. A maior parte, aos 16 anos. De acordo com a maior compilação de estudos já feita sobre o assunto, na geração anterior, a revelação pública pela homossexualidade ocorria em torno dos 21, 22 anos.


Uma comparação entre duas pesquisas nacionais, distantes quase duas décadas no tempo, dá uma idéia do avanço quanto à aceitação dos homossexuais no país. Em 1993, uma aferição do Ibope cravou um número assustador: quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo percentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento com 1,5 mil adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International.

Jovens retratados na reportagem (Foto: Lailson Santos)


O corpo da matéria apresenta vários relatos de adolescentes e jovens de como foi o processo de descobertas e revelações nessa fase. Para a maioria dos pais entrevistados, descobrir que o filho é gay continua sendo um choque e um processo doloroso de aceitação, mas com o tempo eles assimilam melhor a situação. O apoio da família é essencial para que o preconceito seja mais manejável em outros círculos sociais.

O começo do fim do preconceito? 
O que a matéria da Veja não mostra é a homofobia velada que ainda existe em muitas áreas da nossa sociedade. O que dizer dos números do Grupo Gay da Bahia (GGB), que apontam que o Brasil é o campeão mundial de crimes contra lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais (LGTTB’s): um assassinato a cada dois dias, aproximadamente 200 crimes por ano, seguido do México com 35 homicídios e os Estados Unidos com 25. Cadê a tolerância nessa realidade?

A Veja chega a afirmar que a militância no movimento LGTTB soa como antiquada. É devido à luta desse movimento que a homossexualidade deixou de ser considerada doença e perversão. O ativismo LGTTB é referência até hoje, e não podemos deixar que as conquistas alcançadas sejam minimizadas por esse preconceito silencioso.


Vale ressaltar que tanto a pesquisa quanto as fontes consultadas para a produção da matéria levam em consideração a realidade dos estados do Sul e Sudeste, onde o nível educacional e econômico da população é diferente de regiões como o Norte e Nordeste. Quanto maior a escolaridade, menor o preconceito. Todos os jovens e pais entrevistados na reportagem da Veja são oriundos da classe média e classe média alta, muitos universitários, ou seja, distantes do cotidiano da maioria dos brasileiros.


"À medida que as pessoas se educam e se informam, a tendência é que se tornem também mais intransigentes com o preconceito e encarem as questões à luz de uma visão menos dogmática", diz a psicóloga Lulli Milman, da Uerj. Foi o que já ocorreu em países de alto IDH, como Holanda, Bélgica e Dinamarca. Lá, isso se refletiu em avanços na legislação: casamentos gays e adoção de crianças por parte desses casais são aceitos há anos.

Mesmo com uma parcela da população se informando e se conscientizando contra a homofobia, ainda há muito que ser feito. A lei 122/06, que criminaliza a homofobia, ainda parece distante de ser aprovada. Muitos casais gays enfrentam dificuldades para adotar uma criança, ou até mesmo exercerem seus direitos como companheiros. Enquanto princípios básicos de uma sociedade democrática não forem seguidos, como respeito e justiça para todos sem discriminação de raça, cor, religião ou orientação sexual, o engajamento não deve parar.


Um comentário:

Unknown disse...

Importante encontrarmos visões mais calcadas na materialidade da violência cotidiana (construída pela injúria, pelas ofensas e pela eliminação física) que não passa pelas páginas de Veja. O céu contruído por Rogar e Bortoloti é de brigadeiro... A vida da maioria dos homossexuais no Brasil pode ser tão ferrada quanto a da maioria dos brasileiros, sujeita a tantas alegrias quanto os demais, porém, é inegável a homofobia que torna nossos dias mais sombrios, sobretudo para aqueles que, comumente, não frequentam as construções discursivas vejísticas: os que integram as camadas empobrecidas deste país.